esses tempos atrás postei sobre me sentir abandonada. continuo me sentindo assim, com a única diferença de que agora entendi o porquê, e não foi nada agradável.



andei lendo o velho e gasto Charles Dicken's David Copperfield que meu amigo Ted me emprestou em 2006, e aí ele fugiu pra China e eu não tive tempo de devolver. eu acho ótimo, esse livro aí. primeiro porque eu sou apaixonada pela ambientação dele, a Inglaterra de trocentos anos atrás, com diligências e xelins e botas apertadas e colégio internos e afins. segundo porque o Charles Dickens escreve de um jeito apaixonante. terceiro porque eu tenho muita dó desse menino, e ao mesmo tempo rola uma indentificação.
por exemplo: logo que a mãe dele morre e ele vai morar em Londres com apenas 10 anos, trabalhar no lance do padrasto dele, o coitado se fode infinitamente. vai morar com uma família muito boa, mas muito muito pobre, um esquema meio Weasley. vive nas casas de penhores, vira e mexe não tem o que comer. aí o Micawber são presos, e ele vai visita-los na cadeia. ou seja, uma rotina nada certa pra um guri de 10 anos. então ele foge a pé, de Londres até Donver, dormindo no relento e vendendo suas roupas pelo caminho pra comprar comida (ainda bem que naquela época um jogo de strip poker deveria levar hoooras, tamanha era a quantidade de peças de roupa que aquele povo usava). okay. depois ele encontra redenção, casa, comida, e volta pro colégio. só que quando ele chega lá, ele não fala com ninguém, porque tem medo que qualquer coisa no jeito de ele falar ou no tipo dele denuncie pra'queles meninos ricos e bem criados os lugares por onde ele já esteve. ele tem medo de se abrir, se mostrar, e as pessoas depreciarem ele, não entenderem, sei lá. ele tem medo de sofrer mais.

pois bem. com isso eu me indentifico. eu comecei a faculdade há uma semana, e eu ainda tenho muito medo de falar com as meninas com as quais eu ando. muito muito medo. primeiro porque todas as coisas que eu passei nos ultimos dois anos me fez ver quão chata e desinteressante eu sou. depois porque quando eu estava no objetivo, eu tentei fazer amizade com várias pessoas, e tudo o que eu recebi foi desprezo e chacota. realmente enfiaram na minha cabeça que eu sou estranha.
mas pense comigo, leitor-que-provavelmente-não-existe: eu sou necessariamente estranha só por ter um namorado há dois anos e não ter interesse nenhum em garotos e pegadas e sair pra balada pra pegar geral ou fazer chapinha compulsivamente pra agradar possiveis candidatos/por não me sentir confortavel do jeito que eu sou e me preocupar com cada peça de roupa que eu visto e coisas do tipo? eu não estou dizendo que todas as outras pessoas são assim, mas foi só isso que eu encontrei no objetivo. eu não gosto de ir pra balada. eu detesto ficar de pé a noite inteira em um lugar com um som ensurdecedor que não permite que a gente converse. só que assim, eu faço isso. pelos meus amigos eu faço, e faço com prazer e com sorriso. só que daí a ir e ficar num canto sozinha porque cada um tá atrás de um broto pra si, enche o saco depois de um tempo.
e outra: eu sou estranha porque não uso msn? porque prefiro jogar video game do que conversar com gente que eu mal conheço pra tentar criar vínculos forçados? aliás, eu sou estranha por ter vinte anos de idade e jogar videogame o tempo inteiro e ouvir jazz? ou por não usar maquiagem? ou por ter um senso de humor 'peculiar' e rir de coisas que ne todo mundo ri? ou por ser infantil e detestar ser adulta, mesmo que tenha várias pessoas que nem ao menos pagam suas contas e que a mamãe dá o dinheiro da balada e que gostam de ficar posando de adultona? ou por querer ir pra balada de jeans e camisa xadrez que eu sei que é tosca mas é confortável? e por gostar de falar de coisas non-sense? CARA, eu juro, ju-ro, eu prefiro ser assim e as pessoas terem vergonha de me convidar pra sair com seus amigos do que fingir ser uma pessoa que eu não sou.
até porque demorou, mas eu saquei: eu. não. sou. estranha.
você que é.

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