me sinto cansada e vazia. a vontade de levantar e fazer alguma coisa paira sobre mim, sem realmente chegar perto. tudo paira sobre mim, anda em voltas sobre mim, mas nada chega realmente perto. olho para as coisas como um triste espectador, sem grande interesse no que vai ou não acontecer. eu mesmo pairo sobre mim sem chegar realmente perto.
não entendo como meu corpo pode ser incapaz de responder à certos impulsos, uma vez que minha mente borbulha cheia de de idéias.
me sinto como um tetraplégico, que olha suas pernas e pensa em mexê-las com toda a força de vontade que possui e mesmo assim as vê imóveis, sem nem ao menos esperar que elas se mexam.
ele se lembra de como é senti-las... mas cada vez menos. as vezes sente cócegas no calcanhar, mesmo sabendo que, embora o encare, virtualmente ele nem ao menos existe. como se fossem as pernas de outra pessoa, que logicamente não responderiam às vontades de sua mente.
continuo esperando em vão o dia em que o complexo, gracioso e apaixonado tango que imagino não viverá apenas na minha imaginação.
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não enxergo o óbvio, porque vejo atravez dele. todos se parecem levemente com personagens de uma história que não foi escrita, mas é constantemente imaginada por mim. aquela de riso fácil e cabelos loiros seria uma vilã luxuriosa. a menina de óculos e pernas de fora poderia se encaixar no papel da assistente burra, que no meio da peça passa a fazer parte da trupe heróica e bondosa. aquela menina pequena, sem aparente noção da realidade ou qualquer maldade, deveria ser a heroína, se eu dirigisse essa história. mas não dirijo. como posso esperar dirigir pessoas que nem ao menos conheço se não consigo representar papel algum na minha própria vida? passo tanto tempo pensando em coisas que não existem e querendo que as pessoas sejam aquilo que eu espero que elas sejam - o que realmente tornaria tudo mais fácil! - que a realidade se esvai das minhas mãos. quando vejo, o tempo já passou. e com esse tempo, todos se revelam aos meus olhos como aquilo que já são há muito tempo, mas que eu, ocupada em fantasiar a vida, não pude ver. não se pode culpar a árvore que cai pela falta de barulho SE não há ninguém na floresta pra escutar.
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o grito de ódio morre dentro de mim sem ter ao menos a chance de nascer. meu coração bate rápido, muito, muito rápido, o que me leva a uma tontura chata e insistente. há tempos descobri que mesmo se eu não dizer o que penso, continuo a pensar. o efeito de querer gritar é talvez pior do que o efeito que realmente gritar causaria em mim. mas não atinge aos outros, que continuam a me ver como a menina estranha e quieta, sobre a qual se pode pisar, pois ela não reage. talvez eu tenha desenvolvido um mórbido prazer em ser pisada. pelos outros... e por mim mesma. continuo tendo um medo imenso do dia em que cansarei, levantarei e gritarei. alto, mais alto do que o barulho normal e mundano. um grito de desespero ou de ódio, ainda não sei qual. um grito que ensurdecerá as pessoas e estourará minhas cordas vocais. quais seriam as consequencias?
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