continuidade e ruptura

tenho o hábito de ler para meu namorado algumas passagens divertidas dos meus diários de anos anteriores. isso nos liga e ele passa a me conhecer mais e mais.
eu estava lendo algumas coisas do meu diário pink de 2007 e com um imenso sorriso e a voz embargada de nostalgia eu murmurei:
- foi um bom ano...
de repente, a cabeça e o coração se enchem de uma vontade assustadora de voltar para escola, de voltar para o minas, de voltar para itapeva. de voltar a ver minhas amigas todo dia e voltar para aquele dia em especial que aceitamos nosso codinome como nome. voltar a ter pique para sair quinta sexta sábado domingo, fazer cursinho e ensino médio e fazer brigadeiros a tarde inteira com a martinha. voltar desesperadamente a ter 17 anos.de ter fé no mundo e viver numa bolha de ingenuidade e felicidade onde nada me atingiria, de rir na cara do perigo!
afinal, o que de ruim aconteceu na minha vida em 2007? nada.


tudo isso se passa em dois segundos e eu ouço a voz do meu querido me dizendo:
- melhor do que 2010?
minto instantaneamente, nem eu mesma sei bem o porque:
- ah, não...
ele, que lê a minha alma em cada entonação de voz sabe que eu estou mentindo e tenta me desmascarar:
- ah, é? o que de bom aconteceu na minha vida esse ano?

o que de bom aconteceu na minha vida em 2010? nada.
então eu me pego a vasculhar minha mente em busca de alguma resposta e falo, sem a menor animação:
- eu entrei pra faculdade...
lanlan diz, com um sorriso lindo:
- sim!
e penso: é, entrei sim. e depois de gastar uns 5 mil reais e 8 meses da minha vida eu percebo que detesto aquilo.
- eu fiz realmente as pazes com as minhas amigas... - digo, incerta.
- fez mesmo! - diz ele todo felizão.
e penso: sim. e agora é 13948579364 vezes mais difícil estar longe.
- você arrumou um emprego... adquiriu experiencia profissional! - diz ele tentando desesperadamente me ajudar.
- pois é!
e penso: e fui demitida com um mês porque não conseguia nem ao menos atender o telefone direito.
então, como uma última cartada, eu disse a única coisa que me parecia não ter uma contestação:
- a gente está muito mais feliz juntos esse ano. temos muito mais intimidade e cumplicidade, estamos realmente muito bem, melhor do que nunca.
ele apenas sorri, doce.
mas aí, OH NÃO, meu cérebro me engana e grita: E EU QUERO MORAR COM VOCÊ. LOGO. AGORA. DESESPERADAMENTE. E COM O DIVORCIO DOS MEUS PAIS, ESTAMOS MAIS DISTANTES DISSO DO QUE JAMAIS ESTIVEMOS.


então lá estava eu. uma menina de 20 anos sentada numa cama, em um quarto extremamente bagunçado, sem unhas na mão, pesando 49 kg, que só joga video game e come maçã o dia inteiro, segurando uma agenda da capricho e sem ter a menor idéia do porque sua vida ser tão bosta. tão tão bosta.

primeira coisa. porque diabos eu tenho que rebater cada coisa boa que vem na minha cabeça com uma coisa ruim?? desde quando isso é saudável?? isso serve praqueeee??? pra nada. porque eu devo achar que eu não mereço nada de bom, fico me autossabotando e desisto de tudo que pode me fazer algum bem? porque em algum nível insano, eu gosto de ser infeliz.
segunda coisa: porque quando eu tinha 17 anos nada de ruim acontecia e hoje nada de bom acontece? porque eu dou margem. eu vivia tão ocupada sempre e taaaanta coisa acontecia na minha vida que eu simplesmente não tinha tempo pra ser triste. hoje em dia, eu fico acordada a madrugada inteira só pensando besteira e é obvio que nada de bom nasce daí.

mais tarde nesse dia eu fiquei pensando sobre tudo isso. tentando descobrir porque a menina de 17 anos sabia viver melhor do que a menina de 20 anos. porque eu estava tão terrivelmente triste há dois anos. porque eu não tinha muito ânimo de viver. porque eu era fria com todo mundo e não conseguia fazer amigos.

eu não cheguei a conclusão nenhuma a respeito dos porquês. mas cheguei a outra.
eu cansei de ser infeliz. eu não quero mais.
e a primeira coisa que eu devo fazer é deixar os pensamentos bons, os dias bons, as pessoas boas, as cervejas boas, as festas boas, as boas noites de sono, a boa comida(parte dificil :S), a saúde e mais um monte de coisas que me falta chegarem à mim.




e vou começar parando de roer unha







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