significado

uma vez no cursinho, meu professor gato disse que literatura é linguagem carregada de significado. e boa literatura é linguagem carregada de muitos significados.
enfim. no momento, eu não entendi. porque na minha cabeça, qualquer livro carrega significado, até mesmo esses babaquinhas do paulo coelho ou da meg cabot [parenteses: não vou mentir: li coisas do sir paulo e até gosto e a meg eu amo loucamente]. quer dizer... todos eles significam alguma coisa, numé?
foi ai que um dia fuçando nos livros do meu pai - que tem um gosto irritantemente excelente -  eu achei um livrinho velho, de capa amarelada, com uns rabiscos à la picasso numa linha só de uma mina pelada e um cara de sobretudo. chamava 'A Insustentável Leveza do Ser'. eu, na minha infinita ignorancia, nunca tinha ouvido falar (esse livro é bem famoso). comecei a ler e MANO.

como eu posso descrever... eu fiquei embasbacada. é tão ridiculamente bem escrito. e mais do que isso... é, sim, linguagem carregada do maior numero de significados possíveis.
aí eu entendi. porque, MANO. cada capítulo era um estupro mental. eu me sentia realmente assim, estuprada mentalmente, virada do avesso, cansada, até. todo capítulo gerava tanta elucubração (desculpem aí o vocabulário meio extremamente pedante, mas é que eu leio mais do que seria saudável e essa palavra define melhor do que qualquer outra) que era impossível prosseguir. eu tinha que parar, respirar, pensar bastante. era uma leitura dificil, mas não porque tinha palavras complicadas ou seguia uma linha tortuosa ou tinha muita informação de cada vez. era difícil porque a cada capítulo o Milan Kundera(esse é nome do manolo que escreveu essa pedrada) obriga a gente a entrar em contato com coisas muito fundas da nossa mente (quem preferir substitua pela palavra 'alma'), coisas realmente obscuras, que a gente se força a esquecer ou manter o menor contato possível com elas. são coisas que nos dão um grande auto-conhecimento. as vezes machucam, as vezes fascinam, mas eu posso dizer: nunca é fácil. sentir nunca é fácil.

mas aí que tá... é uma história bem simples, contada por quatro pessoas. primeiro o tomas, que é um mulherengo que separa muito bem 'alma' de 'corpo' e por isso trai a mulher dele o tempo todo. depois a tereza, que é a dita mulher e que vê a sua alma como uma coisa muito mais importante do que o corpo e sofre muito com as traições do marido. aí vem a sabina, que é a mulher com a qual o tomás trai a tereza. ela acha que o corpo é que é o importante. e por fim vem o franz, que é um cara muito do desinteressante e sem graça, que não dá relevância nem pro corpo e nem pra alma, só para a mente. ele larga da mulher dele pra pegar a sabina.
essas, obviamente, são conclusões que eu cheguei. não digam que estão certas nem erradas, porque esse lance de interpretação é assim mesmo.

por incrivel que pareça, não era sobre o livro que eu queria escrever. o que eu queria dizer mesmo é que hoje não estou com saco para estupros mentais. queria assistir house, mas as vezes ele me estupra também, então fui assistir glee. pensei em ver into the wild, que um filme com o mesmo poder que a insustentavel leveza do ser tem sobre mim, mas deixei pra lá. até ia tentar ouvir bob dylan ou regina spektor. mas, MANO.

de uns tempos pra cá não tenho saído muito, nem falado com ninguém. só jogo video game pra abstrai e leio loucamente. enfim,  eu penso demais. o tempo todo. e eu acho que essa é a raiz dos meus problemas.

eu não quero pensar.

[mas não vou negar: ser estuprada mentalmente em situações normais.. oh, it feels good]

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